12/01/2008

Sobreendividamento das famílias

O aumento imparável do desemprego, em conjunto com a subida das taxas de juro, está a colocar cada vez mais famílias em situações de sobreendividamento. Cada vez são mais as pessoas pedem ajuda e negociam novas condições para conseguirem pagar os empréstimos.
As estatísticas da DECO não deixam margem para dúvidas: em 2007 o número de casos de famílias com dívidas descontroladas ascendeu a 1976, um aumento de 118% face aos 905 casos registados no ano anterior. “É uma situação preocupante, com famílias em ruptura financeira total”, frisa uma responsável da DECO.
A análise comparativa da evolução do sobreendividamento revela que nos últimos oito anos ocorreu um aumento progressivo do número de famílias com dívidas fora de controlo. Por isso, “as causas do sobreendividamento continuam a ser as mesmas de sempre”. “A principal causa da ruptura financeira é o desemprego”, com “particular importância na maioria dos casos em 2006 e 2007”.
Depois, “regra geral, as famílias que pedem ajuda à DECO têm mais de quatro créditos: habitação, automóvel e dois créditos pessoais”. Em muitos casos as famílias sobreendividadas contam com um rendimento mensal superior a mil euros, mas o número de casos com rendimentos de quatro mil e cinco mil euros por mês também tem aumentado. Pelo que, quando “as famílias quando pedem ajuda à DECO já estão em incumprimento dos créditos e já cometeram muitos erros”. Por isso, se recomenda que “a atitude correcta é, quando começa o incumprimento dos créditos, renegociar logo a dívida com as entidades credoras”.
É apontada como uma das causas para o sobreendividamento a falta de informação das famílias sobre matérias financeiras. “A família portuguesa não tem formação financeira e as pessoas não sabem o que é um spread”. Como os consumidores “têm perdido a noção do valor do dinheiro, porque passaram a usar cartões electrónicos”, a especialista da Associação para a Defesa do Consumidor considera que o combate ao sobreendividamento passa por “apostar nesta temática da formação de saber utilizar o dinheiro”, a qual “deveria ser feita nas escolas, até porque a banalização do crédito fomenta o recurso ao mesmo” 1.
Se nos últimos anos o recurso ao crédito pessoal teve um forte aumento, tal deve-se também à desenfreada publicidade a empréstimos fáceis, com estes resultados; em paralelo vêm-se os altos lucros dos bancos.
Por isso se fala em dois países: um, o das estatísticas, e o outro, o real, o da população, onde faltam empregos e sobram desempregados, que têm que recorrer a empréstimos a juros perversos. País em que a precariedade não pára de crescer e com mais de meio milhão de desempregados e com centenas de empresas encerradas. País onde salários, reformas e pensões continuam objectivamente a diminuir e os preços sempre a aumentar. País onde as assimetrias regionais se fazem sentir cada vez mais 2.

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