21/03/2008

Lisboa continua à espera de um plano verde maduro

Hoje é Dia Mundial da Floresta, data que este ano ficou à sombra do calendário religioso.
Ora, aproveitando o pretexto da dupla jornada do Dia da Árvore e Dia da Floresta, Carlos Moura, da Lisboa Verde - Associação para a Defesa dos Espaços Verdes de Lisboa -, traça um retrato sucinto da componente arbórea na capital, em comparação com 2007: “há mudanças que permitem ter alguma esperança e algum optimismo em termos estruturantes, embora persistam problemas de dimensão mais específica”.
Certo é que qualquer perspectiva sobre o futuro desta área, directamente envolvida na qualidade de vida das populações, passou a ter em conta o famigerado Plano Verde que há décadas o arquitecto Ribeiro Teles vinha recomendando, em vão.
Finalmente aprovado em sessão de CML (por unanimidade, a 2 de Outubro), a “Proposta para a definição da Estrutura Ecológica Municipal”, a integrar na revisão em curso do Plano Director Municipal (PDM), pretende salvaguardar as áreas essenciais para a implementação do Plano Verde, mediante um conjunto de medidas cautelares.
Mas, se “teoricamente o Plano Verde está feito”, quanto à sua aplicação surgem algumas dúvidas. “O próprio vereador reconhece que o plano está ainda condicionado pelos compromissos assumidos pela CML antes deste executivo, como acontece em Chelas ou no Alto de Campolide, por exemplo”, faz notar Carlos Moura. Por outro lado, será preciso ver como se compaginará o mesmo plano com a revisão do PDM. Ou seja: “há que perceber, ainda, o que ficará depois de espremidas todas estas condicionantes”.
Parece, no entanto, indesmentível que há agora mais alento na voz de quem defende uma cidade mais equilibrada entre betão e zonas naturais. Além destas medidas mais estruturantes, Carlos Moura aponta exemplos localizados como o travão à transformação em hotel de luxo do Palacete Ribeiro da Cunha (entre o Príncipe Real e o Jardim Botânico) ou o novo concurso de ideias para o Parque Mayer.
Não que todos os pontos negros estejam esquecidos. O ambientalista preocupa-se com o pós-Rock In Rio, mantém a crítica às construções em curso entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, e ao novo “e quase inóspito” Jardim de São Pedro de Alcântara.
Falando de árvores em concreto, constata que elas continuam a não ter em Lisboa o tratamento que merecem. “Seja quando são destruídas como sucedeu na requalificação do Campo Pequeno, por falta de acção fiscalizadora eficaz por parte da Câmara; seja quando não são valorizadas em cenário urbano como sucede, ainda, num espaço fulcral da cidade como é o Campo Grande”.
Já para não falar da política de continuar a plantar árvores de perfil exótico (como os jacarandás), em detrimento das espécies autóctones. “Essas árvores de jardinagem são cada vez mais usadas porque tem maior resistência à poluição, mas é, em si, um sinal de rendição aos fumos dos escapes”, lamenta, salientando que esta “secundarização das espécies arbóreas autóctones pode alterar as características de um lugar e a sua memória, modificando também a própria relação com as pessoas”.
No fundo, em matéria de árvores e espaços verdes em geral, cumpre reconhecer - conclui aquele ambientalista e ex-dirigente do Núcleo de Lisboa da Quercus - que “não passou tempo suficiente para se poderem fazer juízos de valor consistentes e definitivos”.
A ver(de) vamos...

Ver JRegião 2008-03-21, p. 8

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