16/07/2008

A leviandade e o erro da questão

O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu ontem a necessidade de estudar todas as hipóteses que permitam reduzir a dependência energética, relançando o debate sobre a energia nuclear, ao afirmar, na Assembleia da República, que “a alteração estrutural dos preços da energia está para ficar e tudo tem de ser discutido, incluindo a nuclear” 1.
A hipótese já foi aplaudida esta 4ª fª por um ex-ministro da Indústria e da Energia do actual Presidente da República, mas questionada pela Quercus, que considera tratar-se de uma opção obviamente errada.
Para o ex-ministro, que há três anos defende que Portugal deve considerar a opção nuclear, as declarações do governador são “correctas e pecam por tardias”, pois “todas as energias alternativas têm de ser bem-vindas, incluindo a nuclear”, que, afirma, considera tratar-se da única forma de ter uma base energética estável, designadamente para sustentar o TGV.
E concluiu, dizendo acreditar que muitos dos que não opinavam ou se mostravam cépticos relativamente ao nuclear há uns anos atrás vão começar a defender esta opção, à luz da conjuntura internacional 2.


O presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) mostrou-se hoje favorável a um debate sobre o nuclear, mas exortou os interessados a apresentarem todos os custos deste tipo de produção de energia, considerando que o debate sobre a energia nuclear tem estado “inquinado”, porque os interessados neste assunto têm “escondido as contas”.
“O debate é sempre útil, até porque tem estado inquinado. A mentira permanente de não quererem fazer as contas leva à necessidade de um debate sério”, afirmou o ambientalista. “Quanto custa qualquer avaria numa central? Quanto custa o encerramento duma central?”, questionou.
Para a LPN as contas do nuclear têm de ser apresentadas “do berço até à cova”, sem camuflar ainda as soluções existentes para os produtos e resíduos radioactivos. Globalmente, a LPN considera o “risco” do nuclear “demasiado elevado” e aponta a falta de sustentabilidade financeira desta opção: “o preço da energia produzida é muito maior” 3.
Por sua vez, a Quercus acusou o governador do BdP de grande “ingenuidade e desconhecimento” ao relançar o debate sobre a opção nuclear, afirmando que “se o problema do País é financeiro, então incluir o nuclear nas questões energéticas é um erro”.
A associação ambientalista recordou que “um dos argumentos contra o nuclear é (ser) muito insustentável do ponto de vista de custos”, alegando ainda que um central em Portugal teria uma dimensão que não conseguia ser suportada pela rede eléctrica nacional, além dos problemas de tratamento dos resíduos gerados pelo nuclear e da questão do risco 4.
Já um professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e redactor da estratégia nacional de energia, um documento orientador do Governo, afirma não ter problemas em utilizar a energia nuclear proveniente de outros países, mas que Portugal, de momento, não reúne as condições necessárias para adoptar a opção nuclear, considerando “errado” levantar o problema.
Em declarações a uma rádio, o especialista explicou que a aposta nuclear deve ser na eficiência energética, considerando que há ainda muita margem para poupança de energia em Portugal. Para o catedrático, a questão da energia nuclear é muitas vezes levantada com muita leviandade 5.
Recorda-se que há exactamente dois anos, numa conferência de imprensa, foi publicitada a intenção de apresentar ao Governo a proposta de construir uma central nuclear em Portugal. Na altura a Quercus inventariou os erros quatro erros chave que afastam a energia nuclear da equação energética 6.
Também “Os Verdes”, quer publicamente, quer em vários debates na Assembleia da República manifestaram por diversas vezes a sua posição contrária à opção, defendendo que, “em matéria energética, é necessária uma maior independência do petróleo, apostando em fontes energéticas renováveis e diversificadas e também na requalificação das redes e frotas de transportes públicos, nomeadamente ferroviários, criando verdadeiras alternativas à utilização automóvel” 7.
2. Ver Lusa doc. nº 8555087, 16/07/2008 - 09:13
3. Ver Lusa doc. nº 8555130, 16/07/2008 - 09:44
4. Ver Lusa doc. nº 8555025, 16/07/2008 - 08:41
5. Ver
www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021&contentid=C3728BF5-90E1-40C8-BCC7-7BB512C51DC8
6. Ver
www.minderico.com/minderico/artigo.asp?cod_artigo=173416
7. Ver
http://diario.iol.pt/noticia.html?id=673311&div_id=4071

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