28/07/2008

O segredo dos gelos do Árctico

Debaixo dos gelos do Árctico há petróleo suficiente para satisfazer a procura mundial durante três anos. E a boa (ou má, consoante as perspectivas) notícia é que a maior parte das reservas de petróleo e de gás natural estão em zonas perto da costa dos países do Círculo Polar Árctico, e não perto do Pólo Norte, em regiões de propriedade definida, onde não deve haver disputas territoriais.
Quem o diz são os Serviços Geológicos dos EUA, que acabam de divulgar os resultados da muito esperada avaliação das reservas de hidrocarbonetos ainda não exploradas no Árctico, concluindo que “a plataforma continental do Alasca é o local onde se deve procurar hoje petróleo”.
Vamos aos números: o Árctico pode ter 90 milhões de barris de petróleo ainda não descobertos, e mais de 46 biliões (milhões de milhões) de metros cúbicos de gás natural. Isto representa 13% do total das reservas petrolíferas ainda não descobertas, e 30% das de gás natural, diz a U.S. Geological Survey. Na avaliação foram apenas incluídos “recursos que se julga poderem ser explorados utilizando a tecnologia hoje disponível”.
Mas não foram incluídos cálculos sobre os custos que teria explorar petróleo e gás natural nestas zonas. Isso será o objectivo de um próximo estudo.
É nos sete milhões de quilómetros quadrados de zonas marítimas com menos de 500 metros de profundidade, nas plataformas continentais, que se concentram os hidrocarbonetos. Há três áreas que se destacam: dois terços do gás natural não descoberto situar-se-á em duas regiões russa (a Bacia Siberiana Ocidental e a Bacia Oriental do Mar de Barents, parte desta também sob administração norueguesa) e a zona costeira do Alasca (EUA).
Os geólogos, no entanto, tentaram evitar a questão de saber a quem pertenceriam estes recursos. “Pensámos nisto do ponto de vista geológico, e não político”.
Em princípio, nas regiões identificadas no estudo não haverá grandes disputas territoriais - só lá para o meio do oceano Árctico, mais perto do Pólo Norte propriamente dito, é que as nações do topo do mundo podem disputar o direito a explorar o fundo do mar. O cenário de uma louca corrida ao petróleo e ao gás natural por parte das nações do Árctico (EUA, Canadá, Rússia, Noruega, Dinamarca), imitando a corrida ao ouro na Califórnia, paira no pensamento de alguns.
Na verdade, já há muitas empresas petrolíferas que se estão a colocar no Árctico, preparando-se para aproveitar o degelo, que tem sido cada vez maior durante o Verão, devido ao aquecimento global. E se a tendência de escalada dos preços do petróleo continuar, será cada vez maior o incentivo para o procurar em zonas antes menos atractivas porque implicam grandes gastos.
O impacte ambiental da intensificação da exploração de petróleo e gás natural no Árctico, no entanto, pode ser brutal. Não só para as espécies locais, como o urso polar - mas também para os próprios seres humanos, e não apenas para os povos Inuit, que vivem no Círculo Polar Árctico.
É que os pólos da Terra são uma espécie de ar condicionado do planeta - entre outros efeitos, a capacidade reflectora do gelo funciona como uma t-shirt branca no Verão que nos ajuda a manter mais frescos. Acelerar o derretimento dos gelos pode ter consequências muito graves e inesperadas.

Ver
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1336533
Ver também neste blogue http://osverdesemlisboa.blogspot.com/search?q=%C3%81rtico

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