27/10/2009

'Flor de laranjeira' que vai fazer renascer o lince em Portugal


Chegou ontem a Portugal 'Azahar', primeira fêmea de lince-ibérico no País desde que esta espécie desapareceu nos anos 80. No centro da serra da Malcata está localizado um centro onde se espera que os animais se reproduzam, como aconteceu em Espanha. Pelo bem da biodiversidade e de uma espécie que é um símbolo da península e única em todo o mundo.
Foi um primeiro passo em solo nacional bastante nervoso. Ontem, mal se abriu a porta da jaula, Azahar desatou a correr e a saltar pelos 800 m2 que lhe foram destinados no Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince-Ibérico (CNRCLI), sem esconder a ansiedade e estranheza pelo espaço de 800 m2 que lhe foi dado. As crias de Azahar vão ser a nova esperança para o ressurgimento do lince-ibérico em Portugal, desde que esta espécie se extinguiu nos anos 80.
A história desta "flor de laranjeira" (tradução portuguesa do nome árabe Azahar) começou em Janeiro de 2006 quando foi capturada na serra Morena, na Andaluzia. "Estava muito magra e tinha uma vértebra fracturada", conta Iñigo Sanchez, conservador do Zoobotânico. Foi tratada e escolhida para recuperar os linces-ibéricos em Portugal. Espera-se que consiga engravidar, pois até agora estava num meio urbano e stressante que se pensa que impediu a procriação.
Os mais de 350 quilómetros que Azahar percorreu desde o Zoobotânico de Jerez de La Frontera (Espanha) até à Barragem de Odelouca (perto de São Bartolomeu de Messines) decorreram calmos e lentamente - para não assustar a lince e para permitir uma monitorização a cada 10 minutos - , com direito até a batedores da polícia. Portugueses e espanhóis levam "o passeio" muito a sério.
"O lince-ibérico desapareceu há 30 anos em Portugal. Agora vamos reintroduzi-lo na serra da Malcata, local histórico onde se avistaram os últimos espécimes portugueses", explicou Tito Rosa, presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB).
A partida de Jerez de La Frontera foi cuidadosa. Apenas foi permitido um vislumbre muito rápido de Azahar, que logo começou a mostrar-se inquieta com a presença humana. Maria José Coca, sua tratadora nestes três anos teve tempo para soltar umas lágrimas de saudade antes de a lince partir para a serra da Malcata, primeiro local onde o lince vai ser introduzido. "No futuro, a área de introdução vai desde a Beira Alta até ao Algarve", explicou Rodrigo Serra, director do CNRCLI.
O CNRCI está localizado em pleno coração da serra da Malcata. Um caminho longo e sinuoso leva a um local que impede olhares curiosos. O ruído é nulo, apenas incomodado pelos trinar das aves da zona que cortam o céu. Vai-se aumentar o número de coelhos-bravos, alimento preferencial dos linces-ibéricos.
Azahar vai viver como se estivesse num Big Brother: vigiada por câmaras de filmar, com o mínimo de contacto com os tratadores. Tudo para que o animal viva como se estivesse em estado selvagem e para permitir a procriação com os machos que vão chegar mais tarde - dez machos e seis fêmeas vão entrar no CNRCLI três de cada vez até ao dia 1 de Dezembro.
"Trabalhamos há dez anos a criar habitats, a criar coelhos-bravos, tudo para trazer de volta o lince a Portugal", acrescenta o presidente do ICNB. No país vizinho foram 50 as crias que nasceram em cativeiro e espera-se semelhante sucesso para os animais que chegam a Portugal.
Dependendo da adaptação e das condições naturais, espera-se que dentro de dois a três anos os linces estejam reintegrados no meio natural. Só nessa altura será possível ver o lince-ibérico, porque até lá não há visitas.

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