23/06/2015

2ª intervenção no debate ‘Demografia e Migrações - subtema: o que pensamos’


Assembleia Municipal de Lisboa de 23 de Junho de 2015

Em primeiro lugar desejo saudar esta iniciativa da Assembleia Municipal, cumprimentando todos os presentes, oradores e convidados.
Quando falamos de migrações não nos podemos esquecer que Portugal é um País simultaneamente de emigração e de imigração. Os factores que determinaram a vinda para Portugal de milhares de imigrantes são, no essencial, os mesmos que determinaram a diáspora da década de 60 do século passado e que determinam hoje de novo a saída de muitos jovens portugueses, ou seja, a esperança numa vida com direitos e o direito a lutar por melhores condições de vida.
A existência de correntes emigratórias de um determinado país demonstra, principalmente, as profundas assimetrias económicas e as graves carências sociais existentes nesse país, a par de outros fenómenos como os da guerra, cataclismos naturais ou situações políticas não democráticas. Neste sentido, o emigrante é uma prova viva e real de uma situação económica e social carenciada existente no país de origem. Mas é também, na sua dimensão humana, uma denúncia dos desequilíbrios estruturais nas relações internacionais, onde os Países do Norte dominam e asfixiam as economias dependentes dos países do Sul.
Ao emigrar, o cidadão fragiliza-se, porque vai contactar com uma sociedade de que não conhece a realidade, da qual muitas vezes não domina a língua, onde se encontra desenraizado culturalmente e isolado da família. No entanto, o trabalho desenvolvido pelos emigrantes produz riqueza no país de acolhimento que dificilmente de outro modo seria realizada. O emigrante enriquece a sociedade onde vive e para a qual contribui, com as suas tradições culturais e, simultaneamente, enriquece-se ao conhecer novas formas de pensar e agir.
Por outro lado, o imigrante é quase sempre discriminado, seja no local de trabalho, onde lhe são atribuídas as tarefas ou funções mais árduas, perigosas e desqualificadas e onde, na generalidade, auferem salários inferiores aos estabelecidos legalmente para a sua categoria ou profissão, não possuindo, na generalidade, perspectivas de promoção profissional. Habitam, geralmente, em condições infrahumanas em bairros degradados, com limitados laços de vizinhança e onde não existem infra-estruturas e equipamentos sociais.
Para o imigrante o trabalho é a centralidade da sua opção de vida. Foi o trabalho que o empurrou para o seu percurso migratório. O imigrante não tem alternativa: o trabalho é a razão da sua presença noutro país. As relações laborais são também essenciais na sua vida, no seu posicionamento e postura na sociedade de acolhimento, pois está limitada pelas realidades existentes no mundo laboral. As desigualdades, discriminação, ilegalidades e precariedades existentes no mundo laboral de hoje em dia, são ainda mais profundamente sentidas pelo imigrante.
O racismo e a xenofobia são depois a ponta visível da discriminação existente, a qual a maior parte das vezes é subtil ou de difícil prova. O racismo é a afirmação clara e frontal do preconceito e da discriminação. Quando a sociedade tem défices sociais e democráticos, o racismo e a xenofobia são a solução limite apresentada pela extrema direita e os imigrantes são, invariavelmente, o bode expiatório para todos os males sociais existentes.
Por isto o racismo e a xenofobia nas sociedades contemporâneas não vitimizam somente os seres humanos alvo dos seus bárbaros ataques, mas torna vítima a própria sociedade democrática. Quanto maior for a participação activa e a integração responsável das comunidades imigrantes, quanto mais profundas forem as relações interculturais, maior será a sua natural integração na sociedade e maior será a recusa de propagandas racistas.
Em conclusão, “Os Verdes” defendem que os e/imigrantes têm direitos e deveres, tanto no âmbito laboral como trabalhador, como no âmbito social como qualquer cidadão.
O e/imigrante deverá ter direito a todos os benefícios que a sociedade democrática estabelece. Para tal, o e/imigrante deverá envolver-se na vida dessa sociedade, respeitando, por um lado, as tradições e valores existentes, mas, por outro, exigindo o respeito pelas suas próprias tradições e valores e reivindicando os seus direitos como cidadão e trabalhador, participando na vida social e política. Deverá rejeitar tanto a assimilação, factor destruidor de valores humanos e culturais históricos, como adquirir o patamar da multiculturalidade como etapa superior das relações humanas que enriquecem e fortalecem qualquer sociedade democrática.

Frederico Lira
Grupo Municipal de “Os Verdes

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